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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Números do Censo 2010, um Brasil melhor

O Jornal da Band de 29 de novembro, numa vinheta de passagem,  chamava a atenção para a notícia do bloco seguinte: 190 milhões em ação. A notícia:  Somos 190.732.694 pessoas em todo o Brasil.   Resultado do Censo 2010 divulgado  pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que em  dez anos, o aumento da população foi de 12,3%, em números absolutos isso significa 20.933.524 pessoas. 
A boa notícia é que estamos crescendo menos. Na década anterior o aumento tinha sido de  15,6%. O reverso da medalha é que se a bomba da superpopulação foi desarmada, a melhoria das condições econômicas  tem levado a um aumento da expectativa de vida  e longevidade. Isso vai ter um peso absurdo sobre essa geração daqui a alguns anos. Haja cálculo atuarial para acomodar tanta gente sob o guarda-chuva da Previdência Social! O Joelmir Betting comentou os números, fez comparações. A reportagem apresenta a  Região Sudeste ainda como  a mais populosa do Brasil, com 80.353.724 pessoas. São Paulo , o mais populoso, tem 41.252.160 pessoas. Já Roraima é o estado menos populoso, com 451.227 pessoas. Há mais mulheres que homens, sim. Quase 4 milhões de diferença e aí os números apresentados - friamente - não condizem com a realidade das ruas. dentre os municípios, o  maior percentual de mulheres cabe a  Santos (SP), com 54,25%. Faltou dizer que lá também temos o maior percentual de idosos. Ou idosas...
Ficou com Balbinos (SP), o maior percentual de homens - com 82,2%. Só esqueceram de dizer que eles não estão nas ruas, nos bares - à disposição do público feminino. Estão presos. O presídio local é maior que a cidade, daí a distorção dos frios números apresentados pelo IBGE.
Beleza ficou a coroa!  Veja no site do IBGE como ficou a antiga pirâmide, que agora ganhou um novo formato- de cúpula do Taj Mahal, ou monumento ao amor.!


http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/0000000237.pdf




                                      HOMENS              MULHERES
Brasil                            93.390.532               97.342.162
Região Norte                   8.004.129                 7.861.549
Região Nordeste           25.906.209               27.171.928
Região Sudeste            39.069.051               41.284.673
Região Sul                    13.435.295                13.949.520
Região Centro-Oeste      6.975.848                  7.074.492













quarta-feira, 14 de abril de 2010

Rodoanel: a maior obra ou uma mentira contada mil vezes




                                                                 

estrada


















fotos do google imagens
sem créditos

Ouço dizer na propaganda da TV que o Rodoanel é a maior obra viária em curso do País. Legal, mas vindo de São Paulo é melhor checar a fonte.Paulistas tem mania de grandeza. Vício de originalidade, porque pensam que destas terras saem todas as soluções para o resto do País. Maior obra  em quê? Em volume de tráfego? 200 mil veículos - dia, segundo a Dersa. Sim, talvez. Mas a obra em si não é a maior. Quem conhece o Brasil, que não de avião,  sabe que a maior obra em curso é a duplicação da BR 101 entre os estados de Pernambuco e o Rio Grande do Norte. São 400 km de pistas duplas, totalmente reformuladas, haja vista que a via original virou desvio ou estrada de serviço, tal a precariedade. O Rodoanel - entre tantas "dificuldades" pegou terra nua pela frente, com poucas desapropriações e são apenas 61 km de pistas, pontes e viadutos. A BR passa dentro de pequenos municípios e a obra está mudando a cara da região. Sem contar que lá, são conscritos do EXÉRCITO BRASILEIRO que tocam as máquinas, fazem a obra com esmero e uma limpeza que só vendo. Dos oito lotes, três estão nas mãos do BEC - Batalhão de Engenharia e Construções. Os soldados de coturno e roupa camuflada barateiam custos. Jovens recrutas - possivelmente desempregados, sem a farda, já têm profissão quando forem dispensados da armada. Vão para construção civil.Há muito o que fazer pelo nordeste, tão lindo e tão pobre. Sobre a BR, há um relatório completo na página do DNIT, mas vale a pena comparar um pequeno quadro que resume a obra:
INFORMAÇÕES GERAIS
BR-101 NORDESTE
Gerenciamento:
Extensão:
398,90 Km

RN: 81,40 Km
PB: 129,00 Km
PE: 188,50 Km

Data de Início da Obra: 22/12/2005

Data Prevista para o Término: 4º Trimestre de 2010

Investimento Global:
R$ 1,94 bilhão
Eu grifei o valor da obra, sim. Menos de 2 bi em 400 km. Aqui em São Paulo, 61 km custam 5 bilhões de reais. Será que o cimento aqui é mais caro? A mão-de-obra? Abaixo os trechos e cidades por onde a nova estrada vai levar riquezas, mercadorias e turistas., com muito mais segurança. 

Rio Grande do Norte

A BR-101 no Estado do Rio Grande do Norte (RN) atravessa o espaço territorial de sete municípios: Natal, Parnamirim, São José de Mipibu, Nísia Floresta, Ares, Goianinha e Canguaratema. As interferências com núcleos urbanos ocorrem em Parnamirim, São José de Mipibu, Goianinha e Canguaratema (apenas margeia o perímetro urbano). Nos demais municípios a rodovia percorre a área rural.




Ao longo do Estado, a rodovia desenvolve-se por 81,4 Km, desde o entroncamento com a RN-063, até a divisa RN/PB, extensão essa que foi subdividida em dois lotes: Lote 1 e Lote 2.

Paraíba

A BR-101 no Estado da Paraíba (PB) atravessa o espaço territorial de dez municípios: Mataraca, Rio Tinto, Mamanguape, Santa Rita, Bayeux, João Pessoa, Conde, Alhandra, Pedras de Fogo e Caapora. As interferências com núcleos urbanos ocorrem na localidade de Pitanga da Estrada (Mamanguape), Bayeux e Mamanguape (apenas o perímetro urbano).

Ao longo do Estado, a rodovia desenvolv-se por 129,0 Km, desde a divisa RN/PE até a divida PB/PE, extensão essa que foi subdividida em três lotes de projetos, que compreende os Lotes 03, 04 e 05 das obras.
Pernambuco

A BR-101 no Estado de Pernambuco (PE) atravessa o espaço territorial de quinze municípios: Abreu e Lima, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Escada, Goiana, Igarassu, Itapissuma, Jaboatão dos Guararapes, Joaquim Nabuco, Olinda, Palmares, Paulista, Recife e Ribeirão. As interferências com núcleos urbanos ocorrem em Goiana, Abreu e Lima, Cabo e Palmares. Nos demais municípios a rodovia atravessa perímetros urbanos (região metropolitana de Recife) e áreas rurais.

Ao longo do Estado, o trecho de interesse da rodovia desenvolve-se por 188,50 Km, desde a divida de PB/PE até o entroncamento com a PE-126 em Palmares, extensão essa que foi subdividida em quatro lotes de projetos que compreendem os Lotes 06, 07 e 08 das obras, além de um Lote Especial, correspondente ao Contorno de Recife.
a título de curiosidade, veja quadro do DNIT

20/12/2007Rodovia Mário Covas 

Você sabia que a BR-101 é uma rodovia translitorânea do tipo longitudinal, denominação dada às rodovias que seguem sentido Norte/Sul do país, é parte da Rodovia Panamericana e é oficialmente denominada de “Rodovia Mário Covas”?

Ela tem uma extensão de 4.551,4 km (incluindo os trechos não construídos) e tem seu início em Touros, no Rio Grande do Norte e tem seu ponto extremo sul no município de São José do Norte (RS), embora alguns considerem que seu término se dê em Osório (RS). Atravessa os estados de Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Encontra-se em obras de adequação da sua capacidade de tráfego e duplicação no trecho compreendido entre Natal (RN) e Palmares (PE), numa extensão de 336,5 quilômetros, com investimentos na ordem de R$ 1,7 bilhão.

O trecho entre Palhoça (SC) e Osório (RS) também está sendo duplicado.
Fonte: NCS/DNIT-PB Wikipedia



A duplicação da BR101 Nordeste é obra do PAC. Embora invisível aos paulistas, obliterados pela massiva propaganda do Rodoanel, a nova rodovia - essa sim - vai mudar a cara da região e, quem sabe, diminuir o fosso de desigualdade que separa brasileiros de riba e os do sul maravilha.
Saudações machadianas!!!


sexta-feira, 12 de março de 2010

Maquetes e discursos


foto; O Globo
Como informa o editorial da Folha (FSP 12/03/10), a "ponte é belíssima, audaciosa e colossal". Não precisa dizer mais nada, mas o jornal vai além: "arroja-se sobre uma superfície azul e plácida, em nada semelhante às águas oleosas da zona portuária". Esta é a maquete da discórdia, que fez opor o governador do Estado mais importante da Federação e o presidente da República. Políticos se esmeram em vender sonhos, obras que ainda não existem. Lula disse na oportunidade que tinha gente inaugurando maquete...Ele já fez o mesmo, mas aqui não importa. Santos e Guarujá merecem obras desse porte. Se realmente sair do papel,  será o renascimento de uma pedaço deteriorado da cidade e que já foi dos mais cobiçados. A Ponta da Praia, com seu clubes, seus apartamentos residenciais, o comércio de peixe. A enorme fila de carros da travessia por balsas vai virar coisa do passado...O que não dá para entender é a grandiosidade. Bastaria uma travessia seca, por túnel, com 1 km de extensão. Mas não! Tem que ser um tabuleiro de concreto   suportado por estais gigantes, haja vista a altura dos navios que transportam containeres para o maior porto da América do Sul. Sem contar a manutenção, com a maresia inclemente soprando seus humores contra a estrutura. Quem sabe, mais uma porta para se cobrar pedágios?! Antes de ler a Folha tive do desprazer de cruzar a Marginal Pinheiros, por sobre a ponte Ari Torres ao vir para o trabalho. Um rio poluído, turvo, coberto pela sujeira difusa da cidade, carreada por galerias e bocas de lobo que jogam detritos no rio. O cheiro impregnado no ar não deixa dúvida: o esgoto também está lá, embora haja junto à margem um coletor tronco da Sabesp que deveria carregar todas as águas negras até a ETE Barueri. Deveria. Por dever de oficio, nossos políticos deveriam se comprometer em limpar toda essa sujeira, antes de empenhar recursos públicos em obras para a posteridade. Reproduzimos no século 21 coisa de 50, 60 anos atrás. Um revival. Isso só faz reforçar nosso terceiromundismo. Até quando?  Paro por aqui. Saudações Machadianas.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Mais uma sobre pedais

carnabike 04 por ciclofaixasp.


Até que demorou. O trânsito de São Paulo - mal educado - tinha que fazer mais  uma vítima. Agora em plena ciclofaixa, aquela que liga parques, passando por avenidas largas e planas como a JK. No último domingo, 28/2, um ciclista habitual da ciclofaixa foi atropelado por um carro que fez uma conversão proibida. Teve sorte de apenas quebrar a clavícula e ser socorrido de pronto. Confesso que não tenho bicicleta, mas também não morro de inveja das pessoas que desafiam carros numa cidade como São Paulo, montados numa bike. A mim, basta a adrenalina diária de andar de moto...
A ciclofaixa é uma ideia muito boa e,  como tal, merecia ter um caráter definitivo. São Paulo - aquela do futuro e não a do Kassab, tem tudo para acomodar ciclistas - não apenas os domingueiros. E por falar neles, a ciclovia da Marginal Pinheiros foi finalmente inaugurada. Pelo governador e um punhado de asseclas que nunca mais vão pedalar por aquelas bandas. Infelizmente, a ciclovia foi entregue no afogadilho, sem os devidos acessos- hoje só é acessível pelas extremidades- separadas por 14km. Quem pedalou por lá, gostou. O domingo foi de tempo fechado e alguma chuva. Quando o sol estiver a pino, e o malcheiroso rio vizinho der o ar de sua graça, quero ver quem tem coragem de ir lá , apreciar a paisagem.  Apesar dos serviços de apoio, a ciclovia não deve ser muito utilizada. Não serve de ligação, não encurta distâncias, nem serve de opção para que toma ônibus ou trem.
 Quem usa a bicicleta como condução,  já pode evitar andar na Marginal Pinheiros - o que é muito arriscado. Para quem gosta de pedalar - simplesmente, pode ser uma boa opção. Quando ela chegar ao Parque Villa Lobos, estiver totalmente iluminada, e se um dia o rio for despoluído, podemos dizer que o poder público fez algo de bom pela saúde do povo e pela cidade. Saudações Machadianas!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Outra vez, ciclovia

 Volto ao assunto ciclovia  porque  descobri  mais uma na cidade--  que está por ser inaugurada. A da foto acima.( crédito: blog Willian Cruz)  Fica na Marginal Pinheiros, entre o rio e os trilhos da CPTM. A faixa de domínio da EMAE, que é responsável pela limpeza e dragagem do canal. Noticias dão conta de que vai custar 10 milhões de reais. Divididos pelos 14 km do trajeto, dá o absurdo de quase 700 mil por km. Sem desapropriação. Sem obra de engenharia e fundação... Uma capa de asfalto sobre uma já batida estrada de terra, que já estava lá desde a retificação do rio, no início do século passado. Mais que isso foi saber que a ciclovia só tem duas bocas - de entrada e saída - sem acessos intermediários. Minha nossa! Era melhor nem comentar um notícia dessas. Se tiver um filho de Deus que tire sua bicicleta do porta malas do carro, na estação Autódromo -zona sul - e vá até a a estação Vila Olímpia. e de lá tome o trem para algum lugar - este sim -  merece uma entrevista. Estão brincando com nossa paciência!!! Saudações machadianas.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A chuva de cada dia








foto-repórter Estadão 

Diz o dito popular: depois da tempestade vem a bonança. No dicionário,  bonança vem a ser o estado do mar quando o tempo favorece a navegação. Em sentido figurado, tranquilidade, ventura, felicidade. Parou por aí. Ninguém é feliz quando sua aldeia se desintegra sob as águas que caem a cântaros do céu. A inclemência não poupou nem a festa de aniversário da cidade. Na missa da catedral,  rezaram pela alma de 59 que se foram. No dia seguinte já eram 63 no Estado. Idosos, crianças levadas pelo aguaceiro. Pessoas soterradas enquanto dormiam ou protegiam o pouco que tinham. Não dá pra ser feliz numa cidade ilegal, que avançou sobre suas represas e reservas de mata. Que escondeu seus córregos, vergonhosos sorvedouros dos esgotos. Os poucos,  a céu aberto, perderam seus cílios. Protetores naturais da avalanche de terra e areia arrastadas para os leitos dos principais rios da cidade.Culpar os governantes seria fácil, na falta de investimentos em obras de macrodrenagem. Mas no Brasil,  tudo é urgência. Políticos tem culpa sim. Quando  mudam o código de obras, permitindo mais adensamento em bairros já saturados.  Cada casarão - e seu quintal cheio de árvores - que desaparece para surgir um novo prédio tem um custo para a cidade. Seja na fase da obra, seja depois, no impacto de vizinhança ou no trânsito local. Pagamos a conta. Os que não podem pagar são jogados para longe, as periferias,  áreas de risco. Sem
 recursos, pagam com a vida os erros acumulados de muitas gestões, de omissões criminosas. Depois que a voçoroca arrasta o barraco, levando bens e vidas, não adianta a municipalidade dar abrigo ou vale aluguel por um ano. Um dia a chuva vai parar, mas até lá, enchente vai ser o assunto. Quem sabe uma  linha de crédito especial para cidades arrasadas? Um PAC para enchentes, como cutucou nosso líder... Todos unidos no mesmo palanque. Comovidos na desgraça. Jogo de cena. Um dia a chuva vai embora, e as promessas são esquecidas. O povo embolsa o vale aluguel e volta - por debaixo do pano - para o mesmo lugar que morava. Na beira do córrego, debaixo do barranco, em meio ao lixo- migalhas da cidade. Mas o que faz tanta gente morar mal, longe, gastar tempo e dinheiro num transporte indecente? Sair como formigas dos rincões para trabalhar ou estudar em São Paulo? Li na Revista da Folha que o paulistano reclama do trânsito, mas não desgarra do carro. Aqui é o lugar. Por fim,  Gaston Bachelard, o filósofo, em A Psicanálise do Fogo, nos ajuda entender um pouco deste paradoxo de amor e ódio pela metrópole: "A conquista do supérfluo produz uma excitação  espiritual maior que a conquista do necessário.O homem é uma criação do desejo, não  uma criação da necessidade". Saudações machadianas!



















segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A vida bate, por Ferreira Gullar

A vida bate
Não se trata do poema e sim do homem
e sua vida
- a mentida, a ferida, a consentida
vida já ganha e já perdida e ganha
outra vez.
Não se trata do poema e sim da fome
de vida,
o sôfrego pulsar entre constelações
e embrulhos, entre engulhos.
Alguns viajam, vão
a Nova York, a Santiago
do Chile. Outros ficam
mesmo na Rua da Alfândega, detrás
de balcões e de guichês.
Todos te buscam, facho
de vida, escuro e claro,
que é mais que a água na grama
que o banho no mar, que o beijo
na boca, mais
que a paixão na cama.
Todos te buscam e só alguns te acham. Alguns
te acham e te perdem.
Outros te acham e não te reconhecem
e há os que se perdem por te achar,
ó desatino
ó verdade, ó fome
de vida!
O amor é difícil
mas pode luzir em qualquer ponto da cidade.
E estamos na cidade
sob as nuvens e entre as águas azuis.
A cidade. Vista do alto
ela é fabril e imaginária, se entrega inteira
como se estivesse pronta.
Vista do alto,
com seus bairros e ruas e avenidas, a cidade
é o refúgio do homem, pertence a todos e a ninguém.
Mas vista
de perto,
revela o seu túrbido presente, sua
carnadura de pânico: as
pessoas que vão e vêm
que entram e saem, que passam
sem rir, sem falar, entre apitos e gases. Ah, o escuro
sangue urbano
movido a juros.
São pessoas que passam sem falar
e estão cheias de vozes
e ruínas . És Antônio?
És Francisco? És Mariana?
Onde escondeste o verde
clarão dos dias? Onde
escondeste a vida
que em teu olhar se apaga mal se acende?
E passamos
carregados de flores sufocadas.
Mas, dentro, no coração,
eu sei,
a vida bate. Subterraneamente,
a vida bate.
Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi,
sob as penas da lei,
em teu pulso,
a vida bate.
E é essa clandestina esperança
misturada ao sal do mar
que me sustenta
esta tarde
debruçado à janela de meu quarto em Ipanema
na América Latina.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Turismo em São Paulo bombando

Bombar. Não gosto desta expressão,  mas ela combina com os novos ares das midias eletrônicas, por isso deixei estar no título  assim mesmo. Li com surpresa na Folha Online que o turismo em São Paulo está em franco crescimento. Veja a manchete:


1/01/2010 - 07h58

Turismo cresce em SP, que vira bola da vez nos guias de viagem

PRISCILA PASTRE-ROSSI
da Folha de S.Paulo
O número de turistas na cidade de São Paulo teve um salto de 37,8% entre 2004 e 2009. No ano passado, 11,3 milhões de visitantes estiveram na capital, que no próximo dia 25 vai comemorar seus 456 anos.
Os números são do Observatório do Turismo, o núcleo de estudos e pesquisas da SPTuris. E, antenados, os guias publicados no exterior já tratam a cidade com mais respeito.
Quando visitar SP, use colírio e evite "ressacão", dizem guias
São Paulo é melhor capital para turista, diz pesquisa nacional
Em SP, Metrô tem passeio guiado por centro e avenida Paulista
Caderno de Turismo destaca carnaval e analisa guias sobre SP
Juliana Moraes/Folha
Mercado Municipal de São Paulo, localizado na região central, é um dos principais pontos turísticos da capital paulista
Mercado Municipal de São Paulo, localizado na região central, é um dos principais pontos turísticos da capital paulista
"Wallpaper City Guide São Paulo" recomenda aos leitores que a cidade seja descoberta antes de ser invadida por uma horda de turistas. Terminam o texto de apresentação com um enfático: "Vá logo".
Nos bairros que mais aparecem nas páginas dos guias, caso de Jardins e Vila Madalena, não é mais tão raro esbarrar com gente de fora que não esteja apenas de passagem para uma reunião de negócios. Vira e mexe eles estão por aí, tentando encontrar a caipirinha em bares e restaurantes que raramente têm a oferecer o cardápio traduzido para o inglês.
Revisitando São Paulo
Para avaliar o que os estrangeiros leem sobre São Paulo em edições recentes de guias de turismo editados no exterior, o que os atrai à capital paulista e o que eles são levados a conhecer, a Folha, neste caderno de Turismo (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal), reuniu alguns deles.

É claro que a matéria tem a ver com o interesse editorial da Folha de vender um título  da Livraria da Folha, com direito a promoção, por apenas R$ 18,32. Tem a foto acima, com legenda dando conta  de que o Mercado da Cantareira é um dos principais pontos turísticos.
Bonito na foto -  sim, mas para chegar lá é melhor tapar o nariz. Em dias de calor, o Tamanduateí - que empurra o esgoto de milhões para o Tietê - é putrefação só. Bolhas de azoto rompem a turbidez das águas  para explodir na superfície, tingida de óleos que refletem a luz do sol. Não há nada de belo nisso! Digamos que a fachada, os vitrais escolhidos por Ramos de Azevedo, quando da inauguração em 1933. O mercadão em si é lindo, desde que um fotoshop pudesse descartá-lo da sua vizinhança. Não combina. O turista vai chegar de carro. Vai ver o nada deslumbrante trânsito caótico do centro. Avenida do Estado, suja, entupida em seus semáforos demorados. Caminhões em excesso. Carros em excesso, motocicletas, em velocidade incompatível. Vendedores ambulantes no pouco espaço que sobra entre os carros. Essa é paisagem. Não há estacionamento. O interno do mercadão - de responsabilidade dos permissionários -  não dá conta do volume - principalmente aos sábados. A zona azul de fora, nem falar. Os particulares cobram um absurdo. É por isso que os vendedores do mercadão costumam colocar imã de geladeira, junto com a mercadoria, e o alerta que entregam em casa as compras feitas por telefone. Tudo para não perder a clientela. Ainda nas cercanias do mercadão, prédios degradados, pouco valorizados em suas fachadas. O tempo foi impiedoso com o glamour das construções de outrora. Aquela região desde o tempo em que a prefeita Erundina mudou o gabinete para o Palácio das Indústrias merecia uma requalificação absoluta. Infelizmente, a prefeita seguinte - aquela do projeto belezura - conseguiu se mudar para o Vale do Anhangabaú, deixando o velho prédio da Rua da Figueira a sua própria sorte.
As cabeças mudam na administração, mas o desrespeito com os nossos símbolos e a história de uma cidade continuam inalterados.
Saudações Machadianas

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Bicicleta em São Paulo, nem pensar




Notícia publicada nos jornais de São Paulo dá conta de que a capital deve  ganhar mais 45 quilômetros de ciclovias.  Serão  quatro novos circuitos, aumentando  em cinco vezes a rede de ciclovias e ciclofaixas.  Aliás, nem tenho bicicleta, mas aquela ciclofaixa montada na Juscelino, ligando o Parque do Povo ao Ibirapuera, é de doer. Primeiro - só funciona aos domingos, das 7h às 14 horas. Uma faixa da pista para carros é sinalizada e fica exclusiva para bicicletas. Com todo respeito ao secretário do Verde e do Meio Ambiente, mas essa  é do tipo de ideia que se sublima numa próxima administração. Imagine pagar hora extra para os marronzinhos trabalharem aos domingos sinalizando - e eventualmente - multando quem não respeita o ciclista? Quem paga é o banco do Planeta - o Bradesco... mas sem o patrocínio, adeus  ciclofaixa.
São Paulo -- como outras cidades mundo afora -- precisa de ciclovias permanentes e não  só para o lazer de quem mora nos jardins e, no fim de semana, quer dar uma pedalada pela vizinhança. Outros ares além das ciclovias já instaladas nos parques. Que vergonha! Só o gasto para montar a operação ciclofaixa daria para construir e manter decentemente quantos quilômetros de ciclovia de verdade? Daquelas que deveriam por lei municipal serem construídas aos longo das novas avenidas da cidade. Com a palavra o secretário Eduardo Jorge. Hoje é uma esculhambação. Bicicleta não tem vez.
O ciclista é achincalhado em meio a multidão de carros nas ruas. Vejo ciclista na marginal e penso que o desgraçado está querendo virar notícia. Aqui ainda se distingue a bicicleta - condução de trabalhador pobre e que mora nos bairros distantes - de bike - ferramenta de status e que serve para a prática de exercícios fisicos. Essa ciclofaixa não é como um pré-metrô, que vem para criar um circuito, gerar demanda e justificar um investimento num eixo definitivo. É brincadeira! Não há trabalhadores de bicicletas na ciclofaixa - só bikers... O prefeito de São Paulo - que prefere a cidade vista das alturas - não percebe que além da falta de educação e segurança viária para o ciclista, não há pista para andar de bicicleta nesta cidade. Buracos, buracos e mais buracos. Tampas de bueiro desniveladas, valetas, lombadas, guias malfeitas, sarjetas fraturadas. Se um dia ele tivesse a coragem de pegar uma bike e ir de sua casa até o gabinete de trabalho, com certeza iria tratar de melhorar o leito carroçável que- por ironia - parece que é do tempo das diligências. Segundo a CET, a cidade tem pouco mais de 10 km de ciclovias. Pouco, muito pouco mesmo.
Talvez seja este um dos motivos que fazem  57 por cento dos paulistanos odiarem a cidade onde moram. Um vexame...Saudações Machadianas.





sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Escrachar paga a pena?

15 de janeiro do ano do senhor de 2010. Metade das férias. Neste exato momento do merecido descanso do trabalho, trato de criar um blog. Já não era sem tempo. Na verdade, já tenho um, que serve apenas de repositório digital, ou nas nuvens, das matérias que leio e guardo para ler mais tarde, com mais idade, para ver se elas se realizam. Ainda conservo o hábito de guardar recortes ou páginas de jornais e revistas. Vez por outra, roubo meu tesouro amarelecido pelo tempo, das traças e ácaros, e deito os olhos sobre notícias perdidas na vastidão dos dias, meses e anos. A paginação é outra. Os fios entre as colunas já foram superados. O esforço de tornar conciso um texto de muitas ideias com poucas palavras. Oh, esse é o inferno dos jornalistas! A gente recorta um pedaço do mundo. O traduz em palavras, frases, expressões e chega ao cadafalso da redação. Lept, lept, lept. Navalha nele. Sobra um tiquinho de nada. Afora o estilo, quando não se perde o sentido completo. Também há, reconheço de pronto, os grandes editores que melhoram o mundo confuso dos repórteres sem ideias claras e distintas -Mas esses são cada vez mais raros em ambientes de redação. Já trabalhei com uma plêiade deles. Sou jornalista de televisão e aprendi que nesta mídia se fala sem palavras. Com imagens, que valem por mil palavras. Mas as imagens são traiçoeiras. Sobre elas, se pode falar o que quiser. Interpretar. Hoje o que mais se vê nos jornais diários das Tvs abertas é um tipo de jornalismo distante do lugar dos fatos. O editor escreve sobre o que vê na imagem - isso é dispensável, porque, do outro lado da tela, todos podem fazê-lo sem a mediação. Fica de fora a informação preciosa, o detalhe e é no detalhe que mora o diabo. Quem é aquele sujeito com água até o joelho no jardim Pantanal? Diz a voz em "off": Esse homem não esperou a água baixar e saiu caminhando em meio ao alagamento. Para o repórter - testemunha ocular dos fatos, o homem é o Mané das couves, figura típica, que ajudou a erguer na marra o bairro que escolheu para morar num tempo em que não havia nada por perto. Nem vizinhos, só mato. Mato e cobra, que ele matava mais por diversão que por medo. Mané é um forte. Não arreda pé deste lugar, porque ele não tem outro. Falta alguém dizer para ele, que não se pode morar na beira do rio. O rio é do rio. A margem é a camisa de força do rio, mas de década em década ele se rebela, e... Para dentro do aguaceiro se vão todos os sonhos construídos, comprados, com o suor do rosto. Deixando a poesia aos poetas e as pautas que se repetem como naquele filme da marmota, O Feitiço do Tempo, (Groundhog Day, 1993), difícil é contar todos os dias a mesma história para o mesmo público e ainda granjear a audiência. Só premiando o distinto público com criatividade e ideias divertidas, mas isso é assunto para um outro post. Saudações machadianas.