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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Escrachar paga a pena?

15 de janeiro do ano do senhor de 2010. Metade das férias. Neste exato momento do merecido descanso do trabalho, trato de criar um blog. Já não era sem tempo. Na verdade, já tenho um, que serve apenas de repositório digital, ou nas nuvens, das matérias que leio e guardo para ler mais tarde, com mais idade, para ver se elas se realizam. Ainda conservo o hábito de guardar recortes ou páginas de jornais e revistas. Vez por outra, roubo meu tesouro amarelecido pelo tempo, das traças e ácaros, e deito os olhos sobre notícias perdidas na vastidão dos dias, meses e anos. A paginação é outra. Os fios entre as colunas já foram superados. O esforço de tornar conciso um texto de muitas ideias com poucas palavras. Oh, esse é o inferno dos jornalistas! A gente recorta um pedaço do mundo. O traduz em palavras, frases, expressões e chega ao cadafalso da redação. Lept, lept, lept. Navalha nele. Sobra um tiquinho de nada. Afora o estilo, quando não se perde o sentido completo. Também há, reconheço de pronto, os grandes editores que melhoram o mundo confuso dos repórteres sem ideias claras e distintas -Mas esses são cada vez mais raros em ambientes de redação. Já trabalhei com uma plêiade deles. Sou jornalista de televisão e aprendi que nesta mídia se fala sem palavras. Com imagens, que valem por mil palavras. Mas as imagens são traiçoeiras. Sobre elas, se pode falar o que quiser. Interpretar. Hoje o que mais se vê nos jornais diários das Tvs abertas é um tipo de jornalismo distante do lugar dos fatos. O editor escreve sobre o que vê na imagem - isso é dispensável, porque, do outro lado da tela, todos podem fazê-lo sem a mediação. Fica de fora a informação preciosa, o detalhe e é no detalhe que mora o diabo. Quem é aquele sujeito com água até o joelho no jardim Pantanal? Diz a voz em "off": Esse homem não esperou a água baixar e saiu caminhando em meio ao alagamento. Para o repórter - testemunha ocular dos fatos, o homem é o Mané das couves, figura típica, que ajudou a erguer na marra o bairro que escolheu para morar num tempo em que não havia nada por perto. Nem vizinhos, só mato. Mato e cobra, que ele matava mais por diversão que por medo. Mané é um forte. Não arreda pé deste lugar, porque ele não tem outro. Falta alguém dizer para ele, que não se pode morar na beira do rio. O rio é do rio. A margem é a camisa de força do rio, mas de década em década ele se rebela, e... Para dentro do aguaceiro se vão todos os sonhos construídos, comprados, com o suor do rosto. Deixando a poesia aos poetas e as pautas que se repetem como naquele filme da marmota, O Feitiço do Tempo, (Groundhog Day, 1993), difícil é contar todos os dias a mesma história para o mesmo público e ainda granjear a audiência. Só premiando o distinto público com criatividade e ideias divertidas, mas isso é assunto para um outro post. Saudações machadianas.

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